Precisamente na primeira noite do ano, ela tomou banho, hidratou a pele, colocou a sua melhor lingerie, a camisa de seda e um roupão perfumado.
Estava cansada, pesava-lhe o corpo, pesava-lhe o medo do amanha.
Esta era a sua última noite.
Colocou os comprimidos sobre a mesa e foi tomando um a um, com calma.
Sem medo, sem dramas, sem lágrimas, "descanso eterno" o que vem escrito nos cartões das flores dos funerais.
Sim, era mesmo, descanso eterno pensou ela ao tomar o último comprimido.
Levantou-se colou o bilhete no espelho da casa de banho e deitou-se no sofá.
O dia amanheceu risonho. O sol brilhava como já não havia memória. Um dia de Primavera, diria ela se estivesse acordada para o sentir.
Ele acordou cedo, vestiu-se e sem lavar a cara ou tomar o pequeno almoço saiu para mais uma das suas aventuras desportivas.
Ela dormia profundamente no sofá.
O suor corria-lhe ainda no rosto. O sangue quente, as veias dilatadas, o corpo cansado. Chegou com pressa e quando se dirigiu para a duche leu em silêncio o bilhete colado no espelho: "Quando leres esta mensagem, já não estarei aqui. Fui finalmente viver!"
Pensou que era mais uma das muitas mensagens de delírio que ela lhe escrevia, preparava-se para a guardar na gaveta pequenina, onde tinha guardado todas as outras, mas regressou à sala e ela permanecia a dormir.
Ela nunca pensou que estaria a julgar com este acto o maior culpado da sua morte. Pensou apenas na sua libertação.
Ele esteve três dias sem conseguir chorar, preso às últimas palavras que tinham trocado. Assassino da mulher que dizia amar. Sem saber morreu naquele dia. Abriu os mais de 30 bilhetes guardados em silêncio e chorou, gritou e entregou-se à sua culpa.
Uma década passou. A vida não seria a mesma, ela teria hoje 40 anos e uma filha de 10 se tivesse aguentado viver no porão da condição humana. A filha que levava no ventre teria o sorriso da mãe e seria a alegria da sua vida.
Ele ficou encurralado nesse mesmo ano. A barba cresceu e ficou para sempre branca, agora amarelada pelo tempo que secou junto com todo o mal que deixou acontecer a cada minuto.
Estava cansada, pesava-lhe o corpo, pesava-lhe o medo do amanha.
Esta era a sua última noite.
Colocou os comprimidos sobre a mesa e foi tomando um a um, com calma.
Sem medo, sem dramas, sem lágrimas, "descanso eterno" o que vem escrito nos cartões das flores dos funerais.
Sim, era mesmo, descanso eterno pensou ela ao tomar o último comprimido.
Levantou-se colou o bilhete no espelho da casa de banho e deitou-se no sofá.
O dia amanheceu risonho. O sol brilhava como já não havia memória. Um dia de Primavera, diria ela se estivesse acordada para o sentir.
Ele acordou cedo, vestiu-se e sem lavar a cara ou tomar o pequeno almoço saiu para mais uma das suas aventuras desportivas.
Ela dormia profundamente no sofá.
O suor corria-lhe ainda no rosto. O sangue quente, as veias dilatadas, o corpo cansado. Chegou com pressa e quando se dirigiu para a duche leu em silêncio o bilhete colado no espelho: "Quando leres esta mensagem, já não estarei aqui. Fui finalmente viver!"
Pensou que era mais uma das muitas mensagens de delírio que ela lhe escrevia, preparava-se para a guardar na gaveta pequenina, onde tinha guardado todas as outras, mas regressou à sala e ela permanecia a dormir.
Ela nunca pensou que estaria a julgar com este acto o maior culpado da sua morte. Pensou apenas na sua libertação.
Ele esteve três dias sem conseguir chorar, preso às últimas palavras que tinham trocado. Assassino da mulher que dizia amar. Sem saber morreu naquele dia. Abriu os mais de 30 bilhetes guardados em silêncio e chorou, gritou e entregou-se à sua culpa.
Uma década passou. A vida não seria a mesma, ela teria hoje 40 anos e uma filha de 10 se tivesse aguentado viver no porão da condição humana. A filha que levava no ventre teria o sorriso da mãe e seria a alegria da sua vida.
Ele ficou encurralado nesse mesmo ano. A barba cresceu e ficou para sempre branca, agora amarelada pelo tempo que secou junto com todo o mal que deixou acontecer a cada minuto.